sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Que vergonha Pc do B...

Está no Diário Oficial. Viva a festa!!!
Nº 206, quinta-feira, 23 de outubro de 2008


MINISTÉRIO DO ESPORTE
SECRETARIA EXECUTIVA

EXTRATO DE INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO Nº 4/2008



Nº Processo: 58701001326200801 . Objeto: Contratação de serviços
de produção para participação deste Ministério no Grande Prêmio do
Brasil de Fórmula 1, visando a disponibilização de espaço personalizado
e exclusivo, para a divulgação e promoção do projeto de
candidatura Rio 2016, a ser realizada nos dias 31 de outubro, 01 e 02
de novembro de 2008. Total de Itens Licitados: 00001 . Fundamento
Legal: Artigo 25, inciso I, da Lei 8.666/93 . Justificativa: Para atender
solicitação da Secretaria Executiva deste Ministério Declaração de
Inexigibilidade em 21/10/2008 . JOSÉ LINCOLN DAEMON . Subsecretário
de Planejamento, Orçamento e Administração . Ratificação
em 22/10/2008 . WADSON NATHANIEL RIBEIRO . Secretário Executivo
. Valor: R$ 595.000,00 . Contratada :INTERPRO - INTERNATIONAL
PROMOTIONS LTDA . Valor: R$ 595.000,00

(SIDEC - 22/10/2008) 180002-00001-2008NE900035
Ministério do Esporte
.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

NA BOLÍVIA...

BOLÍVIA 400 GRAUSO que falar sobre a situação na Bolivia?
por Paula Paschoalick
Não querendo ceder aos meus apelos íntimos de ir logo falando mal dos rebelados bolivianos, os que explodem gasodutos, que promovem arruaças, que não enfiaram o rabo entre as pernas depois do referendo que reafirmou a posição do presidente Evo Morales, fiquei puxando pela memória as matérias jornalísticas sobre a vitória de Evo no referendo, tentando contemporizar a questão.
Em uma pesquisa rápida na internet sobre a votação comprovei algo de que já suspeitava. A vitória não foi tão badalada por aqui. Dentre os dez primeiros resultados nenhum trazia a categórica lavada de Evo, que, não só reafirmou a certeza popular de que deve continuar presidente, como aumentou sua aprovação. Os 53,7% de eleitores saltaram para mais de 60% no referendo. Tudo dentro da mais absoluta democracia.
A ameaça do racionamento de gás para o Brasil é a grande vedete do noticiário, seguido pelo fantasma da guerra civil a ameaçar as regiões fronteiriças... aliás elas têm sido desculpa para tudo, que o digam os índios da reserva Raposa do Sol.
É incrível como o tom das reportagens consegue desfocar os verdadeiros responsáveis por essa ameaça, os rebelados, para a política boliviana. Não! Não é o Evo que ameaça o abastecimento, não é Evo que desrespeitou a vontade democrática, são os rebelados das classes abastadas, que em outras situações já teriam sido tachados de terroristas pela mídia gorda.
Para pontuar melhor a atual situação da Bolívia, o jornalista Marco Aurélio Weissheimer escreveu uma ilustrativa matéria, desenrolando de vez a história da expulsão do embaixador norteamericano da Bolívia, nos dando bons sinais dos porquês das notícias que nos chegam por aqui serem tão nebulosas. Confira:
A Política dos EUA na Bolívia
Os movimentos de um embaixador especialista em conflitos separatistas
Deputados bolivianos divulgam documento denunciando as articulações promovidas pelo embaixador dos Estados Unidos na Bolívia, Philip Goldberg, contra o governo de Evo Morales. Considerado um especialista em conflitos separatistas, Goldberg foi enviado a La Paz depois de chefiar a missão dos EUA no Kosovo, onde trabalhou para consolidar a separação e a independência dessa região, depois da Guerra dos Balcãs.
Quatro deputados do Movimento ao Socialismo, partido do presidente da Bolívia, Evo Morales, divulgaram um comunicado denunciando ações do governo dos Estados Unidos, por meio de seu embaixador em La Paz, Philip Goldberg, para derrubar o governo eleito do país. César Navarro, Gustavo Torrico, Gabriel Herbas e René Martinez relacionam um conjunto de fatos ocorridos nos departamentos da região leste do país que obedeceriam a uma estratégia fixada pela oposição em conjunto com o embaixador Goldberg.
Os fatos apontados pelos parlamentares bolivianos são os seguintes:
No dia 13 de outubro de 2006, os Estados Unidos enviam a Bolívia, como embaixador, Philip Goldberg, um especialista em fomentar conflitosm separatistas. Entre 1994 e 1996, foi chefe da secretaria do Departamento de Estado para assuntos da Bósnia (durante a guerra separatista dos Bálcãs).
Entre 2004 e 2006, Goldberg foi chefe da missão dos EUA em Pristina (Kosovo), onde trabalhou para consolidar a separação e a independência dessa região, marcada por uma luta que deixou milhares de mortos.
Segundo os deputados, Philip Goldberg foi enviado a Bolívia com a missão de desestabilizar o governo de Evo Morales, principalmente incentivando o separatismo das regiões orientais. Na Bolívia, depois do triunfo de Evo Morales na eleição de 18 de dezembro de 2005, os partidos tradicionais e as elites sofreram um duro golpe, Goldberg se encarregou de reorganizá-los e de construir um caminho conspirativo para desgastar o novo governo.
Plano midiático de desinformação
Goldberg organizou uma grande coordenação com empresários do leste, com donos de meios de comunicação e políticos do movimento Podemos para colocar em marcha um grande plano de desinformação com respeito à gestão de Evo Morales, tudo isso dentro do marco de uma intensificação das lutas regionais contra o Estado boliviano. Esse plano de desinformação era constituído pelos seguintes passos:
a) Mostrar que o narcotráfico estava crescendo na Bolívia;
b) Os meios de comunicação precisavam mostrar que Evo estava governando mal e que a inflação, a corrupção e o desgoverno estavam crescendo;
c) Os meios de comunicação também deviam imputar ao governo a responsabilidade pela violência no país. Começou a ser difundido aí o conceito de que "Evo dividia a Bolívia". Consolidados esses passos, Goldberg reúne-se, na primeira semana de maio,ncom Jorge Quiroga e acertam a aprovação, no Senado, do referendo revogatório.
Eles estavam convencidos que Evo Morales não conseguiria obter mais de 50% dos votos e, uma vez deslegitimado nas urnas, a oposição e os prefeitos da chamada "Meia Lua" pediriam a renúncia do presidente por "ilegítimo, mau governante e por dividir a Bolívia". No entanto, os prefeitos dos departamentos (equivalentes a governadores) não foram consultados sobre este plano e acabaram se opondo a ele, por achar que não daria certo. No dia 23 de junho, reúnem-se em Tarija e elaboram um pronunciamento escrito para rechaçar o referendo revogatório. Dias antes, em 17 de junho, Philip Goldberg viajou para os EUA, alegando uma suposta crise diplomática.
O objetivo real de sua viagem, dizem os deputados, foi definir um plano, junto a agências publicitárias, para desenvolver uma guerra suja que pudesse causar a derrota de Evo no referendo. No dia 2 de julho, Goldberg regressou a La Paz e, imediatamente, reuniu-se com cada um dos prefeitos opositores para convencê-los a aceitar o referendo. No dia 5 de julho, os prefeitos opositores anunciam que aceitam disputar o referendo.
Os donos das grandes empresas de comunicação também participaram deste plano, denunciam os parlamentares. Isso explicaria, por exemplo, porque nos principais programas políticos destes meios as pesquisas sempre apontavam Evo Morales com cerca de 49% dos votos. A tentativa de derrubada do governo pelo voto estava em marcha. Além desta campanha nos programas políticos, também foi executada uma outra no terreno da publicidade. A oposição contratou uma agência de publicidade para elaborar os primeiros spots contra Evo Morales. Ao dar-se conta que os roteiros e o dinheiro vinham dos EUA, esta agência decidiu não produzir mais os comerciais.

O Plano B do embaixador
O plano para tirar Evo do governo acabou sendo frustrado pelo resultado do referendo. O presidente se legitimou com mais de 67% dos votos e Goldberg passou então a colocar em marcha um Plano B, que incluem greves, bloqueios e ações violentas que buscariam dois resultados alternativos.
1) O conflito se generaliza e obre o leste e parte do oeste do país. A população começa a se cansar, as forças da ordem entram em ação, com muitas mortes. Neste caso, Evo teria que convocar eleições ou deixar o governo depois dos conflitos com mortes. A insistente provocação para que as forças policiais e as forças armadas atuem se encaixa neste plano.
2) Caso não ocorra o cenário anterior, a oposição contaria ainda com uma segunda possibilidade: uma vez desalojada a polícia e o Estado Nacional das regiões, em meio à violência, Goldberg oferece aos prefeitos opositores a vinda de mediadores internacionais, inclusive tropas da ONU para concretizar o separatismo dos quatro departamentos rebeldes, como fez no Kosovo.
Seguindo esse plano, Goldberg viajou a Sucre e se reuniu com a prefeita Savina Cuellar, que pediu a renúncia do presidente. No dia 21 de agosto, o embaixador encontrou-se clandestinamente com o prefeito de Santa Cruz, Rubén Costas, e com quatro congressistas norte-americanos. No dia 25 de agosto, mais uma reunião com Rubén Costas. Paralelamente, a oposição rejeitou o chamado de diálogo feito pelo governo e, no dia 24 de agosto, convocou uma greve geral. Seguindo a linha proposta por Goldberg, denunciam ainda os parlamentares do MAS, os prefeitos impuseram um plano de desgaste de médio prazo, incluindo destruição de instituições públicas e provocações à polícia e às forças armadas.
Na mesma linha golpista, em Santa Cruz e em Tarija começou-se a falar de federalismo e até de independência. Como o empresariado cruceño estava mais interessado na Feira de Santa Cruz (que deve iniciar no dia 19 de setembro) que nas greves e bloqueios, o Departamento de Estado convocou Branco Marinkovic para uma conversa nos EUA. No dia 1° de setembro, em um pequeno avião Beechcraft, matrícula C-90A, Marinkovic viajou aos Estados Unidos onde o convenceram de que o plano estava em sua trama final e que era preciso jogar-se todo nele. No dia 9 de setembro, horas depois do regresso de Marinkovic a Santa Cruz, iniciam protestos violentos, com invasão e queima de instituições públicas e novas agressões às forças armadas e à polícia.
Este é o plano golpista que está em marcha com o apoio da embaixada dos EUA, dizem os deputados. Foram essas razões, asseguram, que levaram o governo boliviano a pedir sua saída do país. Eles manifestam confiança que esse plano fracassará porque o governo de Evo Morales segue controlando o conflito, com paciência e dentro da legalidade, mantendo-o em sua dimensão regional. "A violência gerada por grupos impulsionados por este plano golpista é a forma pela qual os setores conservadores mostram sua decisão de acabar com a democracia, já que ela não serve mais aos seus interesses", concluem.
Marco Aurélio Weissheimer
Originalmente postado no site Carta Maior

terça-feira, 30 de setembro de 2008

ELEIÇÕES 2008

O autor deste blog humildemente recomenda:

Em Recife, vote kátia Telles (16) e Cláudia Ribeiro (16123)

Em Olinda marque 50 pra prefeito e vereador

Em Jaboatão vote Sóstenes (50) e Maria (16123)

e é só...

O FUTEBOL DE MACHADO DE ASSIS

O futebol de Machado de Assis

Há 100 anos morria o maior escritor brasileiro: Joaquim Maria Machado de Assis.
Machado que não chegou a conhecer o futebol como fenômeno social.
Conheceu apenas uma brincadeira de bola entre ingleses e seus simpatizantes.
Uma sátira aos jogos de salão.
Porém, algumas frases e personagens de Machado são puro futebol brasileiro.
Uma antecipação das crônicas de Mário Filho.
Eternas e contemporâneas.
Basta imaginar o instante da penalidade máxima.
O batedor de pênalti com olhos de Capitu. O goleiro Bento na dúvida infame. A intenção do chute dissimulada até o momento final.
Ou quem sabe, a fina ironia na paixão do jogador profissional pelos seus clubes:
"... amou o Vasco da Gama durante quinze meses e onze milhões de reais: nada mais."
Machado escreveria biblicamente sobre os clubes que lutam para não serem rebaixados:
"Bem-aventurados os que não descem."
E se lhe fosse dado conhecer o Maracanã, talvez modificasse o texto sobre a Rua do Ouvidor:
"Uma cidade é um corpo de pedra com um rosto. O rosto da cidade fluminense é este estádio, rosto eloqüente que exprime todos os sentimentos e todas as idéias."
Um zagueiro chora e esperneia quando da marcação de uma falta, ou quando da sua expulsão?
O Bruxo sentencia: "Lágrimas não são argumentos."
Machado de Assis, que sabia ser insidioso como Nelson Rodrigues: "Eu sinto a nostalgia da imoralidade."
Por vezes irônico e cruel. Como durante os funerais de um craque cercado pela lágrima dos torcedores que lhe vaiaram até o descanso final:
"Está morto? Podem elogiá-lo à vontade."
O mesmo torcedor que no instante seguinte chora uma derrota. Uma batalha perdida. Um frango incomensurável? Machado surge, conselheiro:
"Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem."
Machado, gênio e mulato como Friedenreich. Incomparável como Pelé. Astucioso como Leônidas. Imarcável como Garrincha. Múltiplo como Zizinho.
Machado descendente de escravos. Machado, mestre do xadrez.
Porque o coração é o território do inesperado.
Porque a vida é uma enorme loteria.
Contam seus biógrafos que um amigo de Machado de Assis o procurou em 1906. Triste e amargurado. O seu Botafogo havia perdido para o Fluminense por 8 x 0.
Machado, velho e cansado, amargurado com o vazio da morte de sua Carolina, mesmo assim Machado ficou meditando sobre aquele estranho jogo, sobre aquela interminável tristeza do amigo. Não querendo deixar o colega sem uma palavra de consolo, lembra então de Rubião e de Quincas Borba.
Encarando o rosto sofrido do amigo, não pode deixar de sussurrar-lhe uma advertência. Aparentemente óbvia. Enigmaticamente simples:
"Ao vencedor, as batatas!"

sábado, 23 de agosto de 2008

TROTSKY

• No dia 20 de agosto, completam-se 68 anos do atentado que tiraria a vida de Leon Trotsky por um agente do stalinismo. O assassinato não foi algo inesperado. Era parte de um esforço em eliminar qualquer ligação entre os dirigentes da Revolução de Outubro e as gerações mais jovensLeon Trotsky lia atentamente um texto entregue a ele por seu assassino. De repente, um golpe violento na cabeça dado pelas costas com uma picareta de alpinista o jogou ao chão.Mesmo ferido mortalmente, ele se agarrou ao assassino enquanto seus guarda-costas chegavam. Gritou para que não o matassem, para que se descobrisse o mandante do crime.Era o dia 20 de agosto de 1940. Trotsky foi levado ao hospital ainda lúcido. Em suas últimas palavras, deixou a mensagem de otimismo a seus camaradas em todo o mundo: “Estou próximo da morte, devido ao golpe de assassino político... Por favor, digam aos nossos amigos... Estou certo... da vitória da IV Internacional... continuem”.Antes de entrar na sala de cirurgia, se despediu carinhosamente de Natasha, sua companheira de muitos anos. Entrou em coma logo depois e morreu no dia seguinte.O assassino Ramon Mercader, o nome verdadeiro do assassino, era um agente da GPU, serviço de segurança russo antecessor da KGB. Foi um crime longamente planejado pelo stalinismo. Mercader viajou para a URSS em 1937, lá permanecendo por seis meses. Depois, no México, conseguiu se aproximar pessoalmente de uma secretária de Trotsky, Silvia Ageloff.A partir daí, se apresentou ao velho revolucionário como um simpatizante de suas idéias. No dia do assassinato, entregou um texto a Trotsky para que ele opinasse. Aproveitando-se de sua distração, assassinou-o pelas costas.Depois de sair da prisão, em 1961, Mercader foi para URSS, onde foi condecorado com a medalha de “Herói da União Soviética”.Stalin tenta cortar o fio de continuidade do marxismoO assassinato de Trotsky não foi algo inesperado. Era parte de uma política consciente do stalinismo de eliminar qualquer ligação entre os velhos dirigentes da Revolução Russa de 1917 com as gerações mais jovens. Era a tentativa de cortar o fio de continuidade do marxismo revolucionário num momento em que se preparava, novamente, uma guerra mundial, com suas conseqüências revolucionárias. Existia a possibilidade de se construir uma alternativa de direção revolucionária ao redor do velho bolchevique russo.Trotsky pertenceu a uma geração de revolucionários sem precedentes na história. Uma geração que deu respostas teóricas e políticas desde questões relacionadas à organização do partido revolucionário até a construção do poder de Estado pela classe operária.Ele não foi apenas um dos principais dirigentes da Revolução Russa ou o organizador do Exército Vermelho, como é costumeiramente lembrado. Foi o primeiro a identificar o perigo da crescente burocratização do partido e do Estado operário soviético, que ameaçava as conquistas da Revolução de Outubro.Dedicou sua vida, a partir da morte de Lenin, a uma luta prática e teórica para libertar o movimento operário internacional da dominação stalinista. Lançou-se numa batalha sem tréguas contra a burocratização e em oposição à desastrosa política da burocracia dirigida por Stalin.Logo após a ascensão do stalinismo, o revolucionário russo organizou a Oposição de Esquerda e se opôs radicalmente à teoria do “socialismo num só país” defendida por Stalin. Trotsky sustentava que era impossível construir o socialismo limitado às fronteiras nacionais de um país economicamente atrasado como a Rússia. Como Lenin, acreditava que a Revolução Russa era só o princípio da revolução socialista mundial.Trotsky dedicou os últimos anos de sua vida a construir uma alternativa à desastrosa política dos partidos comunistas, intervindo nos processos revolucionários. Realizou o que em sua própria opinião era “o trabalho mais importante” de sua vida: a construção da IV Internacional.A perseguição implacável do stalinismoEm 1927, Trotsky foi expulso do partido, destituído de suas funções no Estado Soviético e, no início de 1928, deportado para o Cazaquistão. No ano seguinte, Trotsky foi banido da URSS e sua condição de cidadão soviético foi cassada.Trotsky era um homem sem nacionalidade ou cidadania. Começava, assim, uma longa jornada de exílios e expulsões que iniciou na Turquia, passou pela Noruega e pela França, até chegar, finalmente, ao México, em 1937, único país que aceitou o exílio do revolucionário russo.Quatro anos antes do assassinato, tiveram início os famosos Processos de Moscou contra dirigentes bolcheviques. Neles, foram fuzilados velhos colaboradores de Lenin, como Zinoviev, Kamenev, Bukharin, Antonov-Ovseenko, entre outros. Durante os processos, o próprio Trotsky foi condenado à morte por ser considerado um suposto “agente sabotador do imperialismo”. Nesse período, milhares de ativistas da Oposição de Esquerda já haviam sido atacados, assassinados, presos ou deportados.A campanha de terror tinha o objetivo de suprimir toda oposição genuinamente socialista contra a usurpação do poder feita pelo stalinismo. O alvo maior do stalinismo era atacar os que estavam junto com Trotsky. Em fevereiro de 1937, Leon Sedov, filho de Trotsky, foi morto em Paris. Às vésperas da fundação da IV, Rudolf Klement, secretário de organização da nova Internacional, foi assassinado, e o projeto de estatutos foi roubado.Em 24 de maio de 1940, se deu a primeira tentativa de assassinato de Trotsky. Um bando de assassinos stalinistas, liderados pelo pintor David Siqueiros disparou rajadas de balas contra a casa do revolucionário que escapou do atentado.Na segunda tentativa, conseguiram seu objetivo. Stalin havia, finalmente, liquidado o último dos grandes dirigentes bolcheviques da Revolução de Outubro.O stalinismo foi julgado pela históriaO stalinismo procurava desarticular a recém-fundada IV Internacional. Possui um grande significado o fato de Stalin, que naquele momento dirigia um Estado operário e tinha influência em partidos de massas de todo o mundo, ter de recorrer a um assassinato pelas costas de um velho de 61 anos.Hoje, o aparato stalinista desabou. Mesmo o que resta dos partidos stalinistas rejeita a vinculação com Stalin. Por outro lado, a IV Internacional sobreviveu e está sendo reconstruída. Obviamente, o assassinato do principal dirigente da Internacional foi uma perda colossal.Mesmo assim, o stalinismo não conseguiu suprimir o legado teórico e político do revolucionário russo. Suas obras constituem uma extraordinária contribuição para a teoria marxista. Um legado para as novas gerações de revolucionários que mantêm viva a sua luta em defesa do socialismo e da IV Internacional.

domingo, 17 de agosto de 2008

DE CUBA...

ENTREVISTA / YOANI SÁNCHEZ"Cuba me dói"
Por Mauro Malin em 12/8/2008
Interessado em coisas de Cuba, fui capturado pela magia do blog de Yoani Sánchez, Generacion Y. Sem saber que ela é uma celebridade internacional, mandei-lhe uma mensagem eletrônica pedindo que desse entrevista ao Museu da Pessoa para contar sua história de vida.
Foi Heci Candiani, a editora de conteúdo do portal do Museu, que me falou da notoriedade de Yoani. Quando lhe mandei cópia da mensagem para Yoani, devolveu: "Boa sorte, acho que você consegue", mas havia uma certa ironia subjacente na continuação do texto: "O blog dela é genial e ela foi eleita uma das 100 personalidades do ano pela Time, depois de ganhar um prêmio de literatura na Espanha". Depois, abri uma edição da revista Claudia e lá estava Yoani, com o maior destaque. Mas não desanimei.
Inspirei-me esotericamente no pianista cubano Chucho Valdés. Na segunda mensagem que mandei a Yoani, eu disse que escrevia ao som de Chucho executando Delirio, filin, de Portillo de la Luz, e que isso me dava saudades de Havana. Não sei se foi por isso, mas a resposta veio rápida, com um número de telefone. Grande Chucho. Grande Yoani. Grande Cuba.
Fiz por telefone uma entrevista de 40 minutos com Yoani Sánchez, depois de ler todos os tópicos de seu blog. A conversa foi gravada, com autorização dela (íntegra da entrevista e os áudios disponíveis aqui).
O segredo do blog de Yoani Sánchez é que ela tem muito tempo para pensar e pouco tempo para colocar na internet o que escreve. Ou seja, muito tempo para pensar no que publica. Resultado: escreve pouco e bem.
Depois que se ouve essa jovem dizer que tem como premissa avançar a cada dia um pouco mais no caminho da tolerância, não será temerário prever que, seja qual for o desenlace da etapa castrista, Yoani Sánchez terá um papel relevante na sociedade cubana. Boa sorte.
Assim fala Yoani Sánchez:
** "No bairro muito humilde chamado Centro Havana, com uma mistura de marginalidade e gente do povo, onde nasci, cresci até os 15 anos. Tive uma adolescência feliz, tranqüila. Mas o fundamental de minha adolescência foram as aflições materiais, produto da crise econômica cubana."
** "A faculdade foi um período ao mesmo tempo difícil e lindo. Conheci meu marido, Reinaldo Escobar, e nasceu meu filho, Teo."
** "Na minha vida não tenho muitos paradigmas de pessoas importantes ou gente famosa. Ao contrário, sou permanentemente influenciada pelas pequenas pessoas – meus amigos, alguém que compõe uma canção, alguém que me conta algo na rua. E tenho também algumas premissas na vida. Uma delas é cada dia avançar um pouco mais na tolerância. A sociedade cubana necessita que os indivíduos aprendam a tolerar a diferença, as opiniões que não são similares às suas."
** "Em Cuba, respiramos política, comemos política. Eu me considero uma pessoa que é da sociedade civil, tratando de descrever como vive e de conectar-se com outras pessoas da sociedade civil. Claro, para o governo isso é oposição. Mas eu mesma não me defino como uma opositora."
***
Leitura, de pai para filha
Fale de seu nascimento.
Yoani Sánchez – Me chamo Yoani Sánchez, tenho 32 anos, nasci na cidade de Havana de uma família muito humilde. Meu pai se chama Willy e é ferroviário. Foi maquinista em estrada de ferro até a crise econômica dos anos 90, quando todo o sistema ferroviário em Cuba entrou em colapso, e agora ele conserta bicicletas. Minha mãe, Maria, também trabalha nos transportes, táxis. Tenho uma família pequena, com uma irmã um ano mais velha.
Qual foi sua escola primária?
Y.S. – Eu estudei numa escola primária, regular, normal, que se chamava "República Popular Chinesa", num bairro relativamente marginal. Mas fui feliz. No meu primário tive muitos amigos e bons professores. Depois passei a uma escola secundária que se chama "Protesta (Protesto) de Baragua(á)". O nome vem de uma data histórica importante da Guerra de Independência de Cuba. Depois fiz o pré-universitário numa escola chamada "Romênia", num momento em que a Romênia já não era uma república socialista.
A escola deu a você uma base de alfabetização e de interesse pela leitura?
Y.S. – O gosto pela leitura me vem fundamentalmente de meu pai. Na escola aprendi muitas coisas, mas creio que em geral a educação em Cuba é um pouco mais passiva. As pessoas tomam o conhecimento dos livros que o professor dá, mas tem muita importância a orientação que os pais dão em casa. E graças a meu pai, que me interessou muito no mundo na literatura, li muito em menina. Isso me ajudou também a passar longas horas de aborrecimento na infância. A literatura me ajudou a sair desse aborrecimento.
Por que seu pai gosta tanto de ler?
Y.S. – Penso que meu pai gostava de ler também por uma questão de trabalho. Tinha que ficar muito tempo fora de casa, quando trabalhava na ferrovia, talvez longas horas esperando dentro da locomotiva para partir em viagem, e adotou a literatura como divertimento, como compensação para as horas de espera de sua profissão. E tinha uma boa coleção de livros em casa, sobretudo muitos clássicos. Minha literatura da infância não era uma literatura moderna. Era a literatura dos clássicos – Dostoiévski, Victor Hugo, os clássicos gregos. E era uma época em que a produção de livros em Cuba era maciça. Imprimiam-se muitos exemplares de cada título e também se traziam muitos títulos impressos na União Soviética. Isso fazia com que o preço dos livros fosse acessível para qualquer pessoa. Não é mais assim. Agora os livros são bastante caros, e as pessoas talvez não comprem tantos livros como nos anos 1970 e 80.
Adolescência com gosto de privação
Como foi sua adolescência?
Y.S. – Tive uma adolescência feliz, tranqüila. Vivi em Havana, nessa época. Mas o fundamental de minha adolescência foram as aflições materiais, produto da crise econômica cubana. Em 1990 eu tinha 15 anos. Um ano antes havia caído o Muro de Berlim e uns meses depois se desmembrava a União Soviética. E isso marcou toda a minha geração. A mim, particularmente, porque me marcou muito materialmente. Meu pai perdeu seu trabalho. O trabalho de minha mãe, que era vinculado ao transporte, também sofreu muito devido à questão do petróleo e da ausência de gasolina. Assim, recordo minha adolescência mesclada com as limitações materiais. Saber que não havia muitas coisas, justo no momento em que um adolescente quer começar a exibir a moda, a música, os penteados. As pessoas de minha geração passamos por momentos muito extremos de carestia e de ausência de produtos.
Mãe aos 20 anos, na faculdade
Como foi a sua faculdade?
Y.S. – Foi um período ao mesmo tempo difícil e lindo. Aos 17 anos conheci aquele que até hoje é meu marido, o jornalista Reinaldo Escobar, e comecei na faculdade de pedagogia para ser professora de literatura, mas não gostei do método de estudo: pedagogia em excesso e muito pouco de espanhol e literatura. Então decidi mudar para a especialidade de filologia. E bem nesse momento fui mãe, o que complicou muito as coisas, porque a crise econômica em Cuba permanecia forte, eu tinha um bebê, e tive que fazer um pouco de mágica para poder estudar na universidade e criar meu filho.
Para voltar a morar em Cuba, passaporte destruído
Fale de suas viagens dentro e fora de Cuba.
Y.S. – Gosto muito de viajar dentro de Cuba, mas nós, cubanos, temos muitas limitações para viajar dentro do nosso país. Primeiro porque viajar dentro de Cuba implica longas filas para comprar passagem de ônibus, avião ou trem. O transporte em Cuba está atualmente num estado catastrófico e passou por anos muito difíceis. Por isso viajamos pouco dentro do nosso país, devido a todas essas limitações de transporte. De todo modo, tenho amigos no Oeste, em Pinar del Río, onde vou freqüentemente. Também gosto muito do Centro da Ilha, as montanhas de Escambray, acampei aí com amigos. Em geral, gosto muito da natureza do meu país, das pessoas.Para fora de Cuba viajei em 2000, para a Alemanha. Tenho muitos amigos na Alemanha, porque sempre gostei da língua alemã, graças a minhas leituras de adolescência, quando li Thomas Mann, Hermann Hesse. Me veio daí muito prazer com o alemão e continuei estudando alemão. Isso fez com que eu tenha muitos amigos em países de língua alemã, como Alemanha, Suíça e Áustria. Meus amigos, quando terminei a universidade, em 2000, me convidaram para um mês de férias na Alemanha. Foi uma viagem muito importante para minha vida. Estive também na França.
Em 2002, a asfixia econômica em Cuba e também a sensação de asfixia pela falta de liberdade me levaram a emigrar para a Suíça, graças, igualmente, a amigos que me ajudaram nesse projeto. Lá vivi dois anos. No último ano, com meu filho, que pude levar comigo. Mas depois de dois anos, por problemas familiares, tive que regressar a Cuba.
Voltei em 2004 de uma maneira muito louca. Quando nós, cubanos, vivemos mais de onze meses fora do país, já não podemos voltar a residir em nosso próprio país. Por isso, em 2004, tive que entrar como turista em Cuba e destruir meu passaporte para poder ficar. É algo muito raro. Não conheço muitos casos em que se tenha feito algo similar. Normalmente os cubanos fazem ações desse tipo para emigrar, não para imigrar. Mas não estou arrependida do que fiz. Aqui tenho meus amigos, minha pequena família e muitos projetos. Então, no momento, sou feliz aqui. Queria viajar em maio, à Espanha, para receber o Prêmio Ortega y Gasset de Jornalismo, mas não me deram a permissão para sair. Para viajar para fora de Cuba, nós, cubanos, necessitamos de uma carta que nos autoriza a viajar, e o governo cubano negou essa solicitação de viagem.
Universidade da tolerância
Pode falar um pouco de sua filosofia de vida?
Y.S. – Eu me considero uma pessoa feliz. Tenho uma família creio que muito harmônica. Não gosto muito dos paradigmas, isto é, na minha vida não tenho grandes paradigmas de pessoas importantes ou gente famosa. Ao contrário, sou permanentemente influenciada pelas pequenas pessoas – meus amigos, alguém que compõe uma canção, alguém que me conta algo na rua –, não a influência dos grandes nomes da história ou da literatura, mas a das pessoas anônimas. Essas me influenciam muito mais.
E tenho também algumas premissas na minha vida. Uma delas é cada dia avançar um pouco mais na tolerância. Creio que a sociedade cubana necessita que os indivíduos aprendam a tolerar a diferença, as opiniões que não são similares às suas. Estou nesse aprendizado. Estou agora na universidade da tolerância. É um longo caminho, longo caminho de respeitar o que diz o outro, e acho que falta muito para que me forme e tenha um diploma... Acho que pelo menos estou no caminho.
A filosofia da minha vida é sobretudo tratar de ser feliz cada dia, com harmonia, com tolerância. Rir. Rio muito. Minha família é muito importante para mim, mas também meu país.
Não me agradam os apáticos e os indolentes. Meu país me dói. Tudo que acontece me dói, e creio que esse é também o combustível para fazer meu blog. Se nada me importasse, se eu me alienasse de minha realidade, não escreveria as coisas que escrevo. Eu as escrevo precisamente porque Cuba me importa. E me importa porque quero que meu filho e meus netos não tenham que emigrar para poder realizar seus sonhos, ou para realizar seus projetos profissionais e pessoais. Nessa direção emprego minha energia. Em fazer de Cuba um país onde se possam realizar os sonhos.
Ideologia e política
O que você me diz de ideologia?
Y.S. – Nunca militei numa organização política, nunca, e não creio ter uma direção, uma linha política clara. Isso é algo que a pós-modernidade trouxe, também. Antes, era muito fácil definir as pessoas, os processos, como de esquerda ou de direita. Hoje, já não está tão claro.
Acho que uma das características deste momento é que já não é tão fácil dizer se alguém é de esquerda ou de direita. Eu, pessoalmente, não defino politicamente a mim mesma. Creio ter muita tendência para a questão social, mas fundamentalmente me considero uma cidadã, que emite opiniões, que faz perguntas, que questiona ou reivindica. Mas eu mesma não me defino com uma coloração política.
De todo modo, os temas sociais, a questão das minorias, dos mais discriminados, me interessam sempre muito. Mas a direita e a esquerda já não estão tão claras, já não é tão fácil defini-las. Penso que sou tão pós-moderna como a situação atual.
E a política? Ideologia é uma coisa, filosofia é outra coisa. Mesmo sem ser militante, existe política na sua vida.
Y.S. – Em Cuba, ninguém pode se manter à margem da política. Respiramos política, comemos política. Por quê? Porque a sociedade cubana está muito politizada. Eu nunca pertenci a uma organização política, mas isso não significa que não tenha uma projeção política. Muito bem. Essa projeção política não implica ter uma posição alinhada com o governo, ou contra o governo. Eu me considero – e nisso me defino como um elétron livre – uma pessoa que é da sociedade civil, tratando de descrever como vive e tratando de conectar-se com outras pessoas da sociedade civil.
Claro, para o governo isso é oposição. Mas eu mesma não me defino como uma opositora. O que acontece é que o espectro de classificação que o governo usa para as pessoas independentes, alternativas, cidadãos com voz própria, ou com critérios próprios, como eu, é muito esquemático. Tudo é branco ou preto. E, para o governo, as pessoas que não aplaudem são opositoras.
Penso que essa saturação política da sociedade cubana, sobretudo nos meios de imprensa, de informação, criou nas pessoas o efeito contrário. Criou apatia, desinteresse. Fez com que muitas pessoas se fechem numa bolha, em suas casas, e não queiram ter contato com o mundo exterior, de tão politizado que está.
Ainda que eu me sinta uma pessoa com muito envolvimento político – gosto de ler as notícias, estar a par do que acontece –, creio que também tenho minhas zonas pessoais onde a política não entra, onde me refugio desse mundo político que normalmente se torna tão incompreensível para o cidadão. E essas grandes zonas onde me refugio da política são a literatura, minha família, meu lar, meus hobbies – a botânica, a jardinagem –, e assim me desligo dessa realidade tão excessivamente politizada.
A mágica de botar comida na mesa
O tema agora é alimentos.
Y.S. – Esse capítulo, em Cuba, repousa fundamentalmente sobre os ombros das mulheres. Depois de 50 anos de projeto de emancipação feminina, na realidade em Cuba continuamos tendo uma estrutura machista da família e da sociedade. Então, as mulheres cubanas têm que fazer cada dia muita mágica, são umas verdadeiras magas, para poder colocar um prato de comida para os filhos, para os maridos, para a família. No meu caso particular não é assim, porque tenho um marido muito emancipado (riso). Fazemos juntos todas as coisas da casa. Mas muitas mulheres têm uma verdadeira dupla jornada de trabalho. Uma fora de casa, em sua profissão, e outra quando chegam em casa.
A questão da comida é, no momento, uma preocupação geral dos cubanos. Primeiro, porque a maioria dos alimentos necessários para sobreviver não tem um preço correspondente aos salários. Os salários são em pesos cubanos; a maioria dos produtos que se vendem é em pesos conversíveis [pesos conversíveis valem 27 vezes mais do que pesos cubanos]. Essa esquizofrenia econômica, essa contradição monetária faz com que, para as mulheres, seja uma verdadeira angústia diária achar o que colocar na mesa.Eu não me considero uma pessoa consumista. A crise econômica dos 1990 me fez saber que posso viver com muito pouco. Isso é importante. Porque me parece que essa mesma crise econômica criou em muitas outras pessoas um apetite voraz, uma falta de medida na hora de consumir. No meu caso particular, criou o efeito contrário: saber que necessito de muito pouco para sobreviver. Meu marido brinca comigo e diz que eu tenho "alma de faquir", porque sou uma pessoa que, se tem comida, perfeito, se não tem, não importa, tenho outras coisas que também me dão gosto e me divertem, entretêm.
Mas acho que a angústia principal que passo a cada dia é alimentar meu filho. Acredito que isto gera muita tensão para as mães: ter um filho adolescente, que precisa alimentar-se, porque é magro e pequeno, e saber que materialmente não conseguimos lhe dar tudo de que necessita. De toda forma, como aprendi essa mágica, como todas as mulheres cubanas, quase todo dia posso resolver a questão alimentar com muita, muita criatividade, muita imaginação e muito tempo fazendo fila, muito tempo inventando, muito tempo preparando os alimentos.
Tênue fronteira da legalidade
Você nunca teve a tentação de fazer alguma coisa ilegal?
Y.S. – Nós, cubanos, necessitamos cada dia fazer muitas coisas ilegais para sobreviver. Quase a cada minuto temos que transpor a linha entre a legalidade e a ilegalidade, para tudo. Porque em Cuba o mercado negro é muito importante para sobreviver. Sem o mercado negro, sem os produtos que nos são trazidos à porta de casa, sem os vendedores ilegais, muitas famílias estariam muito mal. Por isso acredito que faço, sim, coisas ilegais, como 99% dos cubanos têm que fazer para sobreviver.
Você nunca teve vontade de ser, vamos dizer, mais rica do que seus vizinhos, ou com a vida melhor, fazendo permanentemente uma atividade ilegal?
Y.S. – O que acontece é que em Cuba há muitas coisas proibidas. Por exemplo, talvez a maioria pense que fazer um blog, escrever opiniões na internet, pode ser proibido. Portanto, pode ser que sim, que eu faça coisas proibidas e ilegais. Mas não me dedico a nenhuma atividade ilegal que fira minha consciência. Todas as vezes que passo a linha da ilegalidade é para sobreviver, para alimentar minha família. Não estou vinculada a nenhum tipo de negócio ilegal. Acho que me considero impedida de fazer essas coisas também por uma questão de educação e de ética. De todo modo, na sociedade cubana todas as limitações legais e as proibições fomentam muito a ilegalidade. Por isso, de alguma maneira todos somos um pouco delinqüentes.
Estantes solidárias
E os alimentos para a mente? Quando eu estive em Havana, não tinha muito livro para comprar, era difícil.
Y.S. – Eu tenho uma magnífica coleção de livros em casa, uma biblioteca muito boa. Em parte são livros meus que arrasto desde a infância e outros são livros de meu marido, que também foi acumulando muita literatura em toda a sua vida. Mas paralelamente a isso há uma espécie de rede de distribuição de livros entre amigos. Decidi há anos que o mais importante para mim é ler os livros. E, uma vez lidos, já não me importa tanto conservá-los. Por isso leio os livros e os passo a outras pessoas.
E assim acontece com muita literatura que em Cuba não é vendida em lugar nenhum ou está proibida. Penso, por exemplo, nos romances de Milan Kundera, que jamais foram vendidos em Cuba. Penso nessa literatura de exilados cubanos pelo mundo, Cabrera Infante, Jesus Diaz, Eliseo Alberto Diego, que nunca se vendem nas livrarias cubanas – e posso ter um problema, ficar malvista se tiver um livro desses na mão e alguém me vir.
Mas graças aos amigos, a essa rede alternativa e subterrânea que muitas pessoas se dispõem a fazer, trocando livros, estou muito atualizada em matéria de literatura internacional. Funciona assim. Os alimentos para a alma também implicam transpor a linha da legalidade.
Informática abafou a lingüística
O que diz da tecnologia? Você disse que montou seu próprio computador.
Y.S. – A informática e a computação são hobbies meus há mais de 14 anos. É um hobby que pouco a pouco foi deslocando minha profissão de filóloga. Hoje me considero mais informática do que filóloga, porque passo mais tempo programando, desenhando páginas web, consertando códigos HTML do que fazendo um trabalho de lingüística. Faz 14 anos, tive meu primeiro computador, montado com peças do mercado negro, e a partir de então eu, e muitos jovens como eu, soubemos substituir com peças do mercado negro, com invenções, com verdadeiros Frankensteins a ausência dessa tecnologia nas lojas e a impossibilidade material de ter acesso a um computador novo, legal, com nota de compra.
Isso caminhou assim até mais um menos dois meses atrás, quando o governo de Raúl Castro autorizou a venda de computadores legalmente. Graças a essa inventiva, a essa criatividade, e à ousadia que nós, cubanos, temos para fabricar engenhos tecnológicos, pude desenvolver essa segunda profissão, que é a informática.
Anonimato e protagonismo
Fale agora de duas coisas contraditórias: o anonimato e o protagonismo. Primeiro, o anonimato. Você é anônima para os seus vizinhos, você anda no seu bairro pelas ruas e ninguém sabe direito quem você é?
Y.S. – O processo de passar do anonimato em que eu vivia para estar no centro dos meios de imprensa de muitas partes do mundo foi muito rápido para mim. Eu, particularmente, sempre fui alguém que gostava da privacidade, da intimidade e do anonimato. Acho que não há adjetivo que um cidadão receba com mais felicidade do que o ser anônimo. Um cidadão normalmente é anônimo, desconhecido, pequeno. Essa questão do estrelato, de estar nos jornais e na televisão de quase todo o mundo trouxe algumas mudanças para minha vida. Os jornalistas me perguntam mais, recebo mais telefonemas. Mas creio que na essência sigo mantendo um mundo privado, íntimo, muito fechado.
Eu prefiro o anonimato. O anonimato me permite criar com mais tranqüilidade, observar com mais objetividade. E penso que se os políticos tivessem a intenção de ser mais anônimos, menos espetaculares, os problemas que temos se resolveriam melhor. Quando a política deixar de ser um palco onde se procura brilhar e exibir-se e se converter num grupo de pessoas anônimas que tentam resolver os problemas e administrar um país, acho que muitos dos problemas que temos agora começarão a ser solucionados.
Diante da dicotomia entre anonimato e estrelato ou publicidade, fico com o anonimato, que é sempre muito mais real, mais autêntico, mais espontâneo. E mais duradouro. Porque os palcos, a imprensa, tudo isso passa, e no final cada pessoa fica com si mesma, e ela mesma é o ente mais privado, mais íntimo que possa encontrar.
Sonho: viver numa Cuba plural
Quais são seus sonhos?
Y.S. – Tenho muitos sonhos. Acho que se alguma coisa me caracteriza é que estou constantemente sonhando. Tenho sonhos de viver numa Cuba plural, inclusiva, onde caibamos todos.
Tenho o sonho de escrever um livro, publicá-lo, ver meu nome na capa, isso me agrada muito. Como toda filóloga, toda apaixonada pela literatura, creio que a máxima realização seria começar a publicar meus textos, a escrever, e que os outros leiam o que escrevo.
E os sonhos têm relação, sobretudo, com meu filho. Quero que meu filho encontre um espaço nesta Cuba onde hoje tantos jovens emigram, que ele não tenha que emigrar para ter uma profissão, para poder ter um teto próprio, para poder manter sua família. E também seguir junto a meu marido e ao grupo com que trabalho no portal Desde Cuba, fomentando e alimentando a sociedade civil cubana. Sonho que essa sociedade civil desperte, que não se deixe guiar por ideologias nem por líderes carismáticos, e que sinta que o país pertence à sociedade civil, que somos nós os responsáveis pelo que aqui se passa.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Da 'Folha' de domingo

JUCA KFOURI
Os Jogos da hipocrisia
-------------------------------------------------'-------------------------------Não é de hoje que o Movimento Olímpico perdeu seu idealismo. Mas Pequim passa de todos os limites --------------------------------------------------------------------------------
"POR QUE você não foi para Pequim?", perguntam.
"Porque não quis", respondo. Mais: estou entrando em férias e só volto aqui no dia 21. (Nota do blog: o "aqui" se refere apenas ao jornal...).
Claro que verei a Olimpíada e até comentarei no blog, mas ando cheio de tanta hipocrisia, a começar pela caça aos que são pegos no antidoping por hábitos que só fazem mal e pioram o rendimento.
Não aceito ver essa cartolagem imunda da família olímpica no papel de fiscal dos hábitos da juventude e, ainda por cima, expondo jovens à execração pública, como acabam de fazer com um jogador do handebol brasileiro.
Como não suporto o ufanismo da maior parte das narrações, com as exceções de praxe para os felizardos que podem assinar um canal de televisão fechada, razão pela qual darei uma fugidinha do país para acompanhar Pequim de uma cidadezinha colonial mexicana apaixonante chamada Guanajuato.
Porque passa do limite ver um Carlos Nuzman fazer quase o elogio da poluição ou se jactar pela maior delegação brasileira da história, quando só 12% de nossa rede escolar tem quadras de esporte. Aliás, quanto mais medalhas o Brasil ganhar, mais ficará demonstrado o desvio de sua não-política esportiva, porque privilegia o alto rendimento em vez da inclusão social ou a saúde pública por meio da prática de esportes.
Dá engulhos ver a cartolagem em hotéis de até sete estrelas enchendo a boca para dizer que esporte e política não se misturam, quando nada foi mais político do que escolher Pequim para receber os Jogos, cidade que, além de poluída, é uma capital que se notabiliza por cercear direitos básicos da cidadania.
Tudo por dinheiro, tão simples assim.
Porque a China talvez seja o melhor exemplo, com todas as suas contradições, de como ainda não se achou um sistema razoável, tão óbvias são as mazelas do comunismo e do capitalismo reais.
É claro que verei tudo, é claro que me emocionarei com as vitórias brasileiras, como com a festa de abertura.
É evidente que torcerei para que aconteçam triunfos como nunca, porque tenho a surpreendente capacidade (surpreende a mim mesmo, diga-se) de voltar a ser criança a cada competição em seu apito inicial.
E não é de hoje.
Faço assim com os jogos de futebol lá se vão bem uns 26 anos, depois que se revelou a existência da chamada "Máfia da Loteria Esportiva".
Porque paixão é paixão e não se explica, não se racionaliza, se sente.
E se curte.
Sim, eu sei que serei capaz de me comover às lágrimas até com a superação de um atleta que não seja conterrâneo, como já me aconteceu inúmeras vezes.
Mas é preciso que se diga que mais que em Atlanta, quando os Jogos Olímpicos modernos comemoraram cem anos e a Coca-Cola alijou Atenas de recebê-los num crime contra a história, esta edição chinesa é um soco em quem associa o esporte à saúde e à liberdade.
Lamento sentir assim, mas quem viveu a inesquecível festa de Barcelona-1992, cujos equipamentos até hoje são utilizados por quem os pagou, os catalães, além da hospitalidade que recebeu o mundo tão bem, não pode engolir Pequim-2008.