terça-feira, 30 de setembro de 2008

O FUTEBOL DE MACHADO DE ASSIS

O futebol de Machado de Assis

Há 100 anos morria o maior escritor brasileiro: Joaquim Maria Machado de Assis.
Machado que não chegou a conhecer o futebol como fenômeno social.
Conheceu apenas uma brincadeira de bola entre ingleses e seus simpatizantes.
Uma sátira aos jogos de salão.
Porém, algumas frases e personagens de Machado são puro futebol brasileiro.
Uma antecipação das crônicas de Mário Filho.
Eternas e contemporâneas.
Basta imaginar o instante da penalidade máxima.
O batedor de pênalti com olhos de Capitu. O goleiro Bento na dúvida infame. A intenção do chute dissimulada até o momento final.
Ou quem sabe, a fina ironia na paixão do jogador profissional pelos seus clubes:
"... amou o Vasco da Gama durante quinze meses e onze milhões de reais: nada mais."
Machado escreveria biblicamente sobre os clubes que lutam para não serem rebaixados:
"Bem-aventurados os que não descem."
E se lhe fosse dado conhecer o Maracanã, talvez modificasse o texto sobre a Rua do Ouvidor:
"Uma cidade é um corpo de pedra com um rosto. O rosto da cidade fluminense é este estádio, rosto eloqüente que exprime todos os sentimentos e todas as idéias."
Um zagueiro chora e esperneia quando da marcação de uma falta, ou quando da sua expulsão?
O Bruxo sentencia: "Lágrimas não são argumentos."
Machado de Assis, que sabia ser insidioso como Nelson Rodrigues: "Eu sinto a nostalgia da imoralidade."
Por vezes irônico e cruel. Como durante os funerais de um craque cercado pela lágrima dos torcedores que lhe vaiaram até o descanso final:
"Está morto? Podem elogiá-lo à vontade."
O mesmo torcedor que no instante seguinte chora uma derrota. Uma batalha perdida. Um frango incomensurável? Machado surge, conselheiro:
"Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem."
Machado, gênio e mulato como Friedenreich. Incomparável como Pelé. Astucioso como Leônidas. Imarcável como Garrincha. Múltiplo como Zizinho.
Machado descendente de escravos. Machado, mestre do xadrez.
Porque o coração é o território do inesperado.
Porque a vida é uma enorme loteria.
Contam seus biógrafos que um amigo de Machado de Assis o procurou em 1906. Triste e amargurado. O seu Botafogo havia perdido para o Fluminense por 8 x 0.
Machado, velho e cansado, amargurado com o vazio da morte de sua Carolina, mesmo assim Machado ficou meditando sobre aquele estranho jogo, sobre aquela interminável tristeza do amigo. Não querendo deixar o colega sem uma palavra de consolo, lembra então de Rubião e de Quincas Borba.
Encarando o rosto sofrido do amigo, não pode deixar de sussurrar-lhe uma advertência. Aparentemente óbvia. Enigmaticamente simples:
"Ao vencedor, as batatas!"

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